EMPATIA: UM OLHAR A PARTIR DO OUTRO

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EMPATIA: UM OLHAR A PARTIR DO OUTRO

Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade[1]

É fato que a vida que queremos está para além da vida que temos. Eternamente insatisfeitos com a nossa condição, em todas as dimensões existenciais, estamos sempre a caminho. Corremos tanto em busca das coisas que almejamos e, muitas vezes, nos esquecemos de valorizar o que já possuímos de melhor: as pessoas que nos rodeiam.

Não é preciso ir muito longe para descobrir a importância e o significado de viver em grupo. Sem os outros a vida torna-se absurdo, solidão e desencanto. Se, por um lado, como afirmou Kant, “Aquele que só é feliz em função da escolha do outro sente-se, [...] infeliz”, por outro, como bem explicou Schopenhauer: “ a relação precede o elemento isolado. Eles (os seres humanos/nós) não vivem em sociedade por interesse, por virtude ou pela força de qualquer outra razão; fazem-no porque não há para eles outra forma de existência possível”.

Conviver é condição inerente à existência humana. Entretanto, devido à inteligência desenvolvida pela espécie, sabemos também há muito que não nos serve qualquer tipo de relacionamento. Relacionamento bom, positivo é aquele que permite ao outro crescer, desenvolver-se e sentir-se bem olhando para o presente e o futuro com esperança. Saudáveis são os encontros que despertam o que há de melhor em cada um e um gosto de “quero mais”.

Mas relacionamentos fecundos não ocorrem de uma hora para outra. Não são possíveis de encontrar na extensa lista de “delivery” oferecida pelo mercado nem mesmo nas superficiais conversas das redes sociais que pululam a atualidade. Relacionamentos constroem-se com paciência, respeito ao espaço e ao tempo do outro, e com sobriedade.

A empatia, tão comentada e tão pouco vivida, é a capacidade de colocar-se no lugar do outro na ousadia enorme de permitir-se ver o mundo, as situações e os conflitos com o seu ponto de vista, sensibilizando-se e dando-se conta de que nem sempre o nosso olhar é o mais adequado ou o mais justo em torno às demandas concretas da vida.

À expressão kantiana, que decreta infeliz aquele que pauta sua vida pelos pensamentos dos outros, pode-se acrescentar, sem medo de errar, que tão infeliz quando aquele será a pessoa que constrói sua existência passando por cima dos outros, sem valorizar as peculiaridades, os sentimentos, os sofrimentos e as expectativas de quem caminha conosco.

E para a educação, os educadores e os que acreditamos estar fazendo algo de bom com nossas vidas, se quisermos deixar marcas duradouras no coração e na mente dos estudantes, já não mais sendo necessário citar qualquer autor, uma vez que a vida evidencia a necessidade, resta-nos apenas um caminho: escutar mais do que falar, exercitar cotidianamente a belíssima arte de pensar “outramente”, de empenhar-nos em nos livrar da escuta seletiva e passar a ouvir as pessoas com o coração.

[1] Doutor em Linguística. Diretor Pedagógico do Colégio Vicentino Santa Cecília, de Porto Alegre/PR.

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